sábado, 20 de março de 2010

25 - Ídolos corporativos ajudam a agregar valor?

Novembro de 2009


Há algum tempo, discutíamos com amigos a retrospectiva de eventos do ano de 2009, incluindo ocorridos com pessoas internacionalmente conhecidas, quando emergiram os nomes do cantor Michael Jackson e da atriz Farrah Fawcett; eles partiram de diferentes formas, tendo em comum o fato de terem sido - e ainda serem - ídolos e a data de falecimento, 25 de junho de 2009. O desaparecimento de Jackson do cenário artístico recebeu maior atenção da mídia, muito provavelmente em função do maior contingente de admiradores do artista, de múltiplas gerações em âmbito internacional.


Mundialmente conhecido como Rei do Pop (King of Pop), Michael Joseph Jackson nasceu em Gary, no Indiana, EUA, no dia 29 de agosto de 1958, tendo sido cantor, compositor, dançarino e produtor. Iniciou sua carreira aos onze anos, como vocalista do conjunto Jackson 5, integrado por ele e irmãos; a partir de 1971, optou pela carreira solo, sem deixar o grupo, o que ocorreu posteriormente. Foi o criador de grandes sucessos como as músicas Billie Jean, Beat It, Thriller, Black or White e Bad entre outras, inovando na consolidação do vídeoclip como parte inerente da apresentação de suas músicas via televisão.


Michael Jackson teve uma trajetória brilhante e, ao mesmo tempo, muito conturbada. Thriller foi álbum mais popular e vendido da história da música popular, o artista venceu seis prêmios Grammys com os Jackson 5 e 19 em sua carreira solo, tendo doado milhões de dólares, ao longo de sua carreira, a causas beneficentes. Ao mesmo tempo, ele passou por problemas de saúde, mudanças de aparência, acusações de abuso de crianças na justiça dos EUA, arquivadas por falta de provas, casamentos e descasamentos e nascimento/criação de filhos sob intensa observação do público; todos esses eventos originaram discussões ao redor do mundo. No dia 25 de junho de 2009, sofreu uma parada cardíaca em sua casa, na cidade de Los Angeles, Califórnia; em coma profundo, e levado às pressas para o hospital, não pode ser reanimado.


Mary Farrah Leni Fawcett nasceu no Texas, em 2 de fevereiro de 1947. Estudou microbiologia na Universidade do Textas. Tendo estreado na televisão em 1965 no famoso seriado Jeannie é um Gênio, passado também na TV brasileira, Farrah tornou-se internacionalmente conhecida quando estrelou, ao lado das atrizes Kate Jackson e Jaclyn Smith, o seriado As Panteras (Charlie´s Angels), em 1976, no papel da detetive Jill Munroe. Farrah Fawcet será, provavelmente, lembrada pelo público como a eterna Pantera.


Após o seriado, por meio do qual tornou-se modelo de ideal de beleza para milhões de mulheres ao redor do mundo, Farrah buscou seu caminho no cinema. Teve casamentos com atores famosos e um filho. Desde setembro de 2006, lutou contra o câncer, tendo passado por procedimento cirúrgico e sessões de quimioterapia. A atriz recebeu alta no final de 2007, quando parecia ter vencido a doença; posteriormente, o problema retornou e persistiu até a sua morte, no dia 25 de junho de 2009.


O Rei do Pop e a Pantera, no imaginário de milhões de pessoas, se foram, mas permanecem sendo ídolos, ou seja, pessoas que se tornam, por meio da admiração das demais, de forma espontânea e não religiosa, objeto de adoração e/ou devoção. Mas o que tudo isso tem a ver com o tema desse artigo?


Organizações podem criar o que aqui denominaremos ídolos corporativos. Conhecemos uma organização em que um de seus dirigentes, o qual ingressou na empresa como estagiário de engenharia e se aposentou como presidente executivo, era admirado ao ponto de ser imitado por vários outros no estilo, modo de falar e de se vestir. Tivemos a oportunidade de interagir profissionalmente com o executivo em questão e percebemos no mesmo qualidades como inteligência, liderança, carisma e comunicação de forma altamente empática com as demais pessoas. Afinal, ídolos corporativos ajudam a agregar valor?


Retornando aos exemplos de Michael Jackson e de Farrah Fawcett, e sem deixar de reconhecer que existem muitos outros ídolos em diversas searas e campos, acreditamos que as pessoas que se inspirarem em suas melhores qualidades, podem alcançar melhorias em suas vidas, tomando, naturalmente, cuidados quanto aos exageros. Afinal, algumas pessoas podem ter qualidades visíveis que as tornem especialmente admiradas e cuja disseminação pode ser positiva. Conhecemos uma pessoa que melhorou sua saúde e disposição, apenas por passar a dançar em casa, regularmente, grandes sucessos do Rei do Pop, tentando imitar o mesmo, além de Jorge Benjor, artista nacional com músicas irresistíveis. Conhecemos também outra pessoa que, inspirada por sua admiração pela Pantera, passou a cuidar melhor de sua aparência. Naturalmente, pode-se argumentar que não é preciso idolatrar para melhorar e é verdade, mas idolatria leve, aqui considerada como sinônima de admiração racionalizada, não parece fazer mal.


Ao mesmo tempo, a nós parece que a idolatria corporativa pode agregar alguns riscos, os quais podem ou não fazer sentido, conforme a organização específica que se considera, tais como:


1.Objetos idolatrados podem se tornar mais importantes do que a organização e seus objetivos. Quem é mais importante, a organização ou o presidente do seu conselho de administração? A organização ou seu presidente executivo?


2.Decisões empresariais podem ser menos eficazes. Quem ousará desafiar tecnicamente, ainda que de maneira fundamentada, aquele dirigente que todos admiram? Quem desafiará, por exemplo, o legendário e heróico fundador da empresa?


3.Qualidades de pessoas não idolatradas podem ser ignoradas, eventualmente cometendo-se injustiças na compensação por resultados, conforme o sistema de recompensas adotado. Aquele profissional mais discreto, mas que faz acontecer de maneira muito positiva para a empresa, será promovido? Ou será perdido para o mercado de trabalho?


4.Pessoas podem deixar de reconhecer em si mesmas suas próprias qualidades, perdendo contato com o seu potencial e reduzindo sua auto-estima. Por que aumentar a minha produtividade, se eu não consigo mesmo, pelo menos não do mesmo jeito que o senhor ou a senhora X conseguem?


Considerando agora o caso do conselho de administração, este é um órgão colegiado por natureza e essência. Todos os conselheiros, conceitualmente, devem ter o mesmo valor para o negócio. No caso dessa instância, posturas como respeito, admiração, cooperação e interação são válidas, mas idolatria não faz o menor sentido.


MMB - Publicada na Revista RI

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