sábado, 20 de março de 2010

16 - Por que a boa contabilidade é fundamental?

Fevereiro de 2009


A primeira resposta à pergunta “por que a boa contabilidade é fundamental ao governo das empresas” poderia ser: porque ela é uma espécie de linguagem universal do mundo das finanças, sem a qual não é possível administrar uma empresa de maneira técnica, profissional e responsável. Está correto? Sim, acreditamos que sem conhecimentos contábeis básicos, administradores de organizações de todos os tamanhos terão grandes dificuldades em desenvolver seu trabalho de forma consistente; entretanto, a resposta à pergunta em questão é mais ampla.


No caso das sociedades cujas ações estão listadas em bolsas de valores, a importância da contabilidade é ainda maior, pois ela detém a linguagem financeira que permite aos agentes entenderem os fundamentos econômico-financeiros dessas empresas, assim como conhecerem e interpretarem seus resultados. Não é por acaso que se busca a padronização e a internacionalização da linguagem contábil: isso é altamente favorável como estímulo ao financiamento de empresas, ao fortalecimento dos mercados financeiros e de capitais e ao desenvolvimento econômico dos países.


Ao mesmo tempo, a contabilidade é, simplesmente, fundamental no apoio a decisões e essa é a razão pela qual entendemos que a resposta à pergunta inicial deste artigo é mais ampla. Referimo-nos aqui tanto à chamada contabilidade financeira, mais associada aos reportes requeridos pela legislação e regulamentação, quanto à contabilidadede custos, orientada para os públicos empresariais internos e focada em atividades e processos.


O que é uma decisão? Essencialmente, decisão é a escolha entre uma ou mais alternativas, visando atingir um ou mais objetivos. Administradores, ao tomarem decisões sob sua responsabilidade, devem buscar a melhor visibilidade possível do futuro. Um dos caminhos mais relevantes para isso é armazenar a experiência passada e estudá-la, buscando entender o que deu certo e o que não funcionou. Em segundo lugar, decisões devem ser monitoradas quanto aos resultados. Adicionalmente, cumpre reportar os resultados finais das decisões tomadas aos públicos relevantes. Planejar, realizar, controlar e corrigir são os quatro procedimentos fundamentais de um ciclo administrativo que se repete ad infinitum e a contabilidade é fundamental para que tal ciclo se desenvolva com fundamento e substância.


À luz do exposto, nunca é demais reforçar que a contabilidade de uma empresa não existe e não pode existir apenas para ser uma ponte entre as pessoas e o mundo financeiro, registrando o passado, oferecendo relatórios sobre a movimentação financeira e a posição dos ativos e passivos empresariais para atender às exigências da legislação e da regulamentação dos diversos mercados e reportando os custos por atividade ou processo de uma empresa. Tudo isso tem enorme, crucial importância, mas o papel dos profissionais de contabilidade é ainda maior.


A contabilidade deve gerar informações que possam embasar decisões futuras e identificar oportunidades de agregação de valor aos negócios; seus profissionais dispõem de ferramentas metodológicas, métricas e informações que permitem contribuir de maneira ativa à criação de valor econômico. Acreditamos que mesmo nas organizações de menor porte, é possível (se houver esclarecimento e vontade política para isso) criar sistemas contábeis de informações caracterizados pela simplicidade e robustez, os quais abastecerão os gestores com informações fundamentais para tomadas de decisão e correções de rumo.



É por meio dos relatórios emitidos pela contabilidade que os administradores conhecerão o desempenho do seu trabalho e das atividades empresariais, já dissemos. Adicionalmente, para os grupos empresariais de grande porte, um bom trabalho dos profissionais de contabilidade agrega transparência interna das operações de empresas controladas e coligadas; não é só fora das empresas que existe assimetria informacional. Com o apoio da contabilidade, torna-se factível acompanhar o desempenho de diferentes unidades de negócios e de distintos negócios como um todo e embasar decisões de melhorias e investimentos; a contribuição da contabilidade à análise do portfólio de empresas e negócios de um grupo empresarial pode ser considerável.


A contabilidade oferece, ainda, a base informacional que permite tomar decisões relativas à remuneração de proprietários ou acionistas (via dividendos, juros sobre o capital próprio e reduções de capital onde factível, visando retirar fundos disponíveis no caixa das empresas), bem como de administradores e demais empregados (bônus, remuneração variável e outras modalidades).


A preocupação com a contabilidade das sociedades por ações é o pano de fundo de diversas iniciativas de entidades do mercado de capitais nacional. No dia 16 de agosto 2006, foi lançado, na então Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), atual BM&FBovespa, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Criado pela Resolução n. 1.055, de 7 de outubro de 2005, do Conselho Federal de Contabilidade, o objetivo de médio prazo do Comitê no momento de seu lançamento era a obtenção de um conjunto uniforme de normas brasileiras adequadas aos padrões internacionais.



Desde sua criação, o CPC tem emitido pareceres técnicos sobre questões contábeis de relevo, com foco na padronização e internacionalização de padrões. Reunindo entidades como a BM&FBovespa, a Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA), a Associação de Analistas e Profissionais de Mercado de Capitais - APIMEC, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), o CPC é apoiado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Banco Central do Brasil (BACEN), interagindo como o International Accounting Standards Board (IASB).


Finalizamos estas breves reflexões dizendo que a contabilidade se torna, cada vez mais, instrumento efetivo de governo das empresas e há quem defenda que as controladorias estejam diretamente subordinadas aos conselhos de administração, ao invés de estarem subordinadas às diretorias executivas. Esta não é uma tese interessante para desenvolvimento e discussões? De qualquer forma, o papel dos profissionais de contabilidade se torna cada vez mais valorizado nos mercados financeiros e de capitais e acreditamos que não pode ser de outra forma.



MMB - Publicado na Revista RI

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